O silêncio da noite é quebrado pelo som gutural do motor de um autocarro. Junto à estação, o veículo enorme impõe a sua presença, como um gigante adormecido que aguarda o seu destino.
Embarco no autocarro e o meu mundo muda instantaneamente. O ar está impregnado de um cheiro peculiar, uma mistura de couro e perfume, e o zumbido suave do ar condicionado cria uma atmosfera quase hipnótica.
Os passageiros são um mosaico de histórias e destinos. Um homem idoso, dormindo profundamente, o seu rosto enrugado suavizado pelo sono. Uma jovem casal, as mãos entrelaçadas, os seus olhares perdidos no vazio. Um grupo de amigos, risonhos e barulhentos, a partilharem segredos e gargalhadas.
O autocarro desliza suavemente pela estrada, as luzes da cidade a iluminarem o nosso caminho como estrelas cadentes. A paisagem desliza por nós, um borrão de casas e árvores a dançarem ao nosso ritmo. Sinto-me à deriva, suspensa entre o sono e a realidade.
À medida que a noite avança, o autocarro transforma-se num refúgio acolhedor. O barulho do trânsito desaparece e o único som é o suave ronronar do motor. Os passageiros dormem ou sonham acordados, os seus pensamentos perdidos no vazio da noite.
Sinto uma sensação de paz ao olhar à minha volta. Não há pressa, não há preocupações. Apenas o ritmo constante do autocarro a levar-nos para o desconhecido.
À medida que o autocarro se aproxima do meu destino, sinto uma pontada de tristeza por deixar este espaço acolhedor. Mas sei que o autocarro da noite continuará a sua viagem, transportando outros sonhadores e viajantes na vastidão da noite.
Desço do autocarro e a noite envolve-me como um manto. As estrelas cintilam acima de mim, guiando o meu caminho de volta à realidade. Levo comigo as memórias do autocarro da noite, um lugar onde o tempo pareceu suspender e os sonhos tomaram forma.