Bernardina
"Bernardina, a mais velha das irmãs, era uma mulher de poucas palavras. Ela era o pilar da família, sempre presente para ajudar a todos. Mas, naquele dia, ela estava estranha."
A casa estava cheia de gente, era aniversário de 80 anos da dona Bernardina. Os filhos, netos, bisnetos e até tataranetos estavam presentes. Todos estavam felizes, rindo e se divertindo. Todos, menos a aniversariante.
Bernardina estava sentada em sua poltrona, no canto da sala, olhando para o vazio. Ela não estava participando da festa, não estava conversando com ninguém. Estava apenas olhando, com um olhar triste e distante.
"Eu me aproximei dela e perguntei se estava tudo bem."
— Tudo bem, sim. Estou só cansada.
"Ela me respondeu baixinho, quase como se estivesse sussurrando."
— Cansada? Mas hoje é o seu aniversário, você deveria estar feliz.
— Eu sei, mas não consigo. É que... é que eu estou me sentindo sozinha.
"Eu fiquei surpreso. Bernardina sempre foi uma mulher tão forte e independente. Nunca imaginei que ela pudesse se sentir sozinha."
— Sozinha? Mas você tem tantos filhos, netos, bisnetos...
— Eu sei, mas não é a mesma coisa. Eu sinto falta do meu marido, dos meus amigos, da minha juventude.
"Eu não sabia o que dizer. Eu nunca tinha pensado em Bernardina como uma pessoa solitária. Mas naquele momento, eu percebi que ela era apenas uma mulher velha, com as suas dores e saudades."
— Eu sei que você não pode trazê-los de volta, mas você pode tentar se lembrar deles. Você pode contar histórias sobre eles, para mim e para as crianças.
— Eu sei, eu sei. Mas é que é tão difícil.
— Eu sei que é difícil, mas você precisa tentar. Para você e para eles.
"Bernardina ficou em silêncio por um momento. Depois, ela olhou para mim e sorriu."
— Você está certo. Eu vou tentar.
"Eu a abracei e a beijei na testa. Ela era uma mulher forte, mas naquele momento, ela precisava de um pouco de apoio. E eu estava lá para ela."